sábado, 23 de setembro de 2023

É preciso despertar

 Tu trabalhador desta multiempresa. 

Tu de gravata e paletó. 

Tu de macacão. 

Tu que mal sentes 

o sol em teu corpo.

Tu que trabalhas em 

grandes salas subterrâneas 

e não vê a luz do dia. 

Tu que mal sentes 

o cheiro do bife e 

do macarrão acebolados.

 Tu que vives entre birutas, 

máscaras, e extintores. 

Tu que te chocas 

quando ofendem o teu Senhor. 

Tu que trabalhas entre mesas,

 máquinas de calcular, clipes, 

lápis, canetas, parafusos, 

computadores, soldadoras, 

prensadoras, pregos, empilhadeiras, 

ventiladores, embaladoras. 

Não permitas que os gritos 

de teu chefe sejam mais altos 

que aqueles, desgraçadamente, 

emitidos por ti contra tua 

companheira, tua amante, 

teus filhos, e teus cachorros. 

Luta pela valorização 

de teu trabalho.

 Luta pelo respeito. 

Reivindica a recompensa 

digna de tua mão de obra. 

Não permitas que tua família 

se destrua depois de tua morte. 

Tu que engoles poeira, 

ácidos, gases tóxicos.  

Tu que tens 

teu corpo exposto 

às máquinas trituradoras,

às explosões, 

Para e pensa.


Celso de Alencar (1949-)

Opiniães – Revista dos Alunos de Literatura Brasileira. São Paulo, ano 12, n. 22, jan.-jun. 2023. 

 

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