_ Nós não temos tempo de conhecer os nossos filhos!
Sessão de um sindicato regional. Mulheres, homens, operários de todas as idades. Todas as cores. Todas as mentalidades. Conscientes. Inconscientes. Vendidos
Os que procuram na união o único meio de satisfazer as suas reivindicações imediatas. Os que são atraídos pela burocracia sindical. Os futuros homens da revolução. Revoltados. Anarquistas. Policiais.
Uma mesa, uma toalha velha. Uma moringa, copos. Uma campainha que falha. A diretoria.
Os policiais começam sabotando, interrompendo os oradores.
É um cozinheiro que fala. Tem a voz firme. Não vacila. Não procura palavras. Elas vêm. Os cabelos nos olhos bonitos. Camisa de meia suada, agita as mãos enérgicas. Estão manchadas pelas dezenas de cebolas picadas diariamente no restaurante rico onde trabalha.
_Nós não podemos conhecer os nossos filhos! Saímos de casa às seis horas da manhã. Eles estão dormindo. Chegamos às dez horas. Eles estão dormindo. Não temos férias! Não temos descanso dominical.
[ ] Um operário da construção civil grita::
_ Nós construímos palácios e moramos pior que os cachorros dos burgueses. Quando ficamos desempregados, somos tratados como vagabundos. Se só temos um banco de rua para morar, a polícia nos prende. E pergunta porque não vamos para o campo.. Estão dispostos a nos fornecer um passe para morrer de chicotadas no "mate-laranjeira".
Patrícia Galvão (Pagu) 1910-1962
Parque industrial. São Paulo: Companhia das Letras