São drummondianos estes versos, já outras vezes citados por nós:
Lutar com as palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
Lutam com as palavras os escritores, os
Drummonds, aceitando-lhes as definições correntes ou, no seu direito de
artistas, modificando- lhes o sentido, ou criando novos, ou novas palavras; e
lutam, igualmente, os dicionaristas, redefinindo-as, acrescentando-lhes
significados, ou introduzindo-as no léxico, após enfrentar a tarefa, tantas
vezes penosa, de captar- lhes a essência, desentranhar- lhes o sentido, infundir
alma num corpo. Uns e outros se empenham na luta – e sempre com a esperança de
que não seja vã. Em nossos casos particulares – o do Poeta e desse aprendiz de lexicografia
– há uma diferença (deixem passar a confissão): a do aprendiz, ordinariamente,
vai até de manhã.
Aurélio Buarque de
Holanda Ferreira (1910-1989)
Novo dicionário da língua portuguesa. Prefácio. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1975.
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