terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Confraternização

Braços caídos

Não mais as mãos nervosas das tecelãs

tocando os

teares,

pondo emendas no fio

Não mais o matraquear dos teares

batendo

num barulho monótono, ensurdecedor

Apenas braços caídos,

As operárias pensando nos filhos

com fome

Depois vieram os soldados,

fuzis embalados

Defender a propriedade dos donos da

fábrica

Mas também tinham filhos,

Mães, noivas, irmãs

A fome era a mesma nos seus lares

também

E as tecelãs os saudaram chamando-os de irmãos

Agora na fábrica há braços erguidos

Aclamando

E há mãos se apertando.

 

 


Carlos Marighella (1911-1969)

 

Poemas: rondó da liberdade. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994.