[...] No outro dia seguimos adiante, indo a outra casa, onde comiam as mesmas coisas, mas onde já apresentaram uma nova maneira de nos receber. Estes [indígenas] não vieram ao nosso encontro, simplesmente colocaram o que queriam nos dar no meio da casa e sentaram-se em volta, virados para a parede, com a cabeça baixa e os cabelos cobrindo os olhos. Daqui em diante, começaram a nos dar muitas mantas de couro. Aquela era a melhor gente que encontráramos até então, quanto ao corpo, vivacidade e habilidade. Eram os que melhor nos entendiam e que melhor nos respondiam a tudo que perguntávamos. Nós os chamamos de “o povo das vacas”, porque é ali que mais tem esse animal. Perguntamos a eles de onde haviam trazido o milho e nos disseram que viera de onde o sol se põe. Aproveitaram para contar que nos dois últimos anos haviam enfrentado grande seca, que arruinou quase toda a colheita [...]
Sem saber o que faríamos e que caminho pegar
que fosse mais proveitoso, ficamos dois dias com eles. Davam-nos feijão e
cabaça. A maneira deles cozinharem as cabaças era tão nova que quis descrevê-la
aqui para que se conheça como são diversos e estranhos os talentos e
habilidades dos homens humanos. Não têm panelas e, para cozinhar o que querem
comer, enchem meia cabaça grande de água e põem muitas pedras no fogo. Quando
vêem que as pedras estão ardendo, eles as pegam com tenazes de pau e as colocam
na água da cabaça, até que a fazem ferver. Quando a água está fervendo, colocam
o que querem comer e enquanto cozinha ficam tirando as pedras e pondo outras
mais quentes.
Cabeza de Vaca, 1400-?
Naufrágios e Comentários/ Álvar Nuñes; Tradução de Jurandir Soares dos Santos. Porto Alegre: L&PM, 1999, p 112-114.
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