Lalo de Almeida (1970-) |
Coletânea de excertos sobre as várias faces do trabalho, escolhidos a partir de muitas e prazerosas leituras de textos literários e afins (com algumas ilustrações)
terça-feira, 29 de outubro de 2024
sábado, 26 de outubro de 2024
Eu ouço a América cantando
Ouço a América cantando, os variados cânticos que eu ouço,
O dos mecânicos, cada qual cantando o seu como devia ser alegre e forte
O carpinteiro cantando enquanto mede a prancha ou a viga
O pedreiro cantando o seu quando vai ao trabalho ou volta dele,
O barqueiro cantando o que é seu em seu barco, o grumete cantando no convés dos vapores,
O sapateiro cantando ao sentar-se na banqueta, o chapeleiro ao levantar-se
A canção do lenhador, a do camponês saindo de manhã, ou na pausa da tarde ou quando os sol se põe,
O adorável cantar da mãe, ou da jovem esposa no trabalho, ou da moça lavando roupa ou na costura,
Cada qual cantando o que lhe diz respeito e nada mais.
Ao dia o que pertence ao dia, à noite a algazarra dos jovens, vigorosa e afável
Cantando a viva voz sua fortes canções melodiosas.
Walt Whitman (1819-1892)
Tradução de Ivo Barroso
gavetadoivo.wordpress.com
quinta-feira, 17 de outubro de 2024
A canção tecida
Tece, tece, tece, tece,
Bem tecida essa canção,
Um a um, fio por fio,
Como faz o tecelão
Que fabrica o seu tecido,
De cambraia de algodão.
Prende os fios coloridos
No labor da tua mão.
Tece, tece, tece, tece,
Bem tecida essa canção,
Com carinho, com cuidado,
Com silêncio e solidão.
Tece, tece, que tecendo
Cresce, cresce a fiação,
Urde as formas das estampas,
Firma as cores do padrão,
Roda a roda, tece, tece,
Bem tecida essa canção.
Noite e noite, sempre e sempre,
Nunca inútil, nunca em vão,
Dia a dia te aproximas
Mais e mais da perfeição.
Não te falte uma esperança
Nem te falte uma razão
Que tecida por ti mesmo
Faz nascer essa canção.
Tece, tece, muito e muito,
Por dever e obrigação,
(Pois tecer é teu ofício
De poeta e tecelão).
Tece como se tecesses
Tua morte ou redenção,
Com amor e sacrifício ,
Rapidez e lentidão,
Muito embora ninguém saiba
Que teceste esta canção
Com os fios do teu pranto
No tear do coração.
Marcus Morais Accioly